Visto como uma alternativa prática e barata para driblar os congestionamentos, o mototáxi esconde uma série de riscos. Reportagem da TV Gazeta, por exemplo, mostra que a falta de regulamentação das motos por aplicativo contribui para o aumento do número de acidentes e mortes. Veja cinco motivos que vão te fazer repensar se vale a pena utilizar esse tipo de serviço
Quem nunca saiu em cima da hora para um compromisso e, na pressa para chegar ao destino, escolheu a opção mais prática e rápida de transporte? É com esse pensamento que cada vez mais pessoas estão aderindo ao mototáxi. No Espírito Santo não é diferente.
Uma reportagem divulgada nesta quinta-feira (17) no Jornal Gazeta Meio Dia, e nesta sexta-feira (18) no Bom Dia ES, ambos da TV Gazeta, confirma esse dado. Ela traz, ainda, uma outra preocupação: a ausência de regulamentação do serviço.
Para as autoridades, o aumento no número de acidentes e mortes com esse tipo de veículo está diretamente relacionado ao crescimento dos serviços de transporte por moto via aplicativo, de acordo com a reportagem. É aquele velho ditado: o barato que sai caro.
Diante da importância do assunto, reunimos neste artigo cinco coisas que não te falaram sobre o serviço de moto por app… E que, com certeza, irão te fazer repensar se vale a pena optar por essa modalidade de transporte. Confira:
1. Mais de 100 mil mortos em uma década
Por trás da narrativa de supostas viagens baratas e livres de congestionamentos, há o aumento do número de acidentes fatais ou quase fatais, deixando para a sociedade uma multidão de sequelados e uma alta conta a ser paga nos hospitais públicos, via SUS.
Segundo o DataSUS, Departamento de Informática do Sistema Único de Saúde, 119.735 condutores de motos morreram entre os anos de 2012 e 2021, a primeira década de ações para a redução de mortos e feridos no trânsito, estipulada pela Organização das Nações Unidas (ONU).
No Espírito Santo, em 2023, foram registradas 824 mortes no trânsito, sendo mais da metade (416) vítimas de acidentes com moto. E somente na Região Metropolitana da Grande Vitória, foram mais de 197 mortes em acidentes com motocicletas, ou seja, 23,9% do total de mortes no trânsito no estado. Os números são da Secretaria de Estado de Segurança Pública (Sesp).
Com cada vez mais pessoas utilizando motos como meio de locomoção, a tendência é que esses números aumentem. Aliás, é o que já acontece.
2. Sobrecarga no SUS
Embora as viagens de mototáxi sejam promovidas como rápidas e econômicas, a verdade é que elas vêm acompanhadas de um aumento significativo nos acidentes.
Os números falam por si: 54% de todos os acidentes de trânsito registrados no Brasil têm motos envolvidas. São mais de quatro em cada dez mortes no trânsito causadas por motos.
E os acidentes fatais deixam, ainda, um rastro de sequelas e custos elevados para os hospitais públicos, que acabam sendo arcados pelo SUS, ainda mais se levarmos em conta que mais da metade dos municípios brasileiros tem serviços de mototáxi.
No Espírito Santo, 2.841 pessoas ficaram internados em hospitais públicos, em 2023, em decorrência de acidentes com motos. Já em 2024, até o mês de junho, foram registradas 1.983 internações, segundo dados da Secretaria de Estado da Saúde (Sesa).
Ou seja, essa “liberdade” de transporte traz consigo um alto preço social.
3. Segurança em segundo plano
A realidade é que as motos não foram projetadas para funcionar como transporte público.
Motociclistas trafegam nos corredores entre carros, caminhões e ônibus e, por isso, ficam mais expostos quando há choque entre veículos. Quem está na garupa, isto é, o passageiro, também.
Se, de um lado, o mototáxi possui a impressão de baixo custo, do outro, ele é de altíssimo risco. Além do número de acidentes fatais envolvendo motos no Brasil ser alto, o serviço não é sequer regulamentado.
Mas como, então, o mototáxi ainda está ativo? O que ocorre é que as empresa que operam esse tipo de serviço se baseiam em uma lei federal, a Lei n° 13.640/2018, que regulamenta o transporte remunerado privado individual de passageiros. Mas a regulamentação precisa ser feita pelas prefeituras, e a falta dela faz com que os profissionais que prestam esse serviço não atendam a todas as normas de segurança no trânsito, o que aumenta os riscos de acidentes.
É o que destaca o chefe de comunicação do Batalhão de Trânsito da Polícia Militar do ES, capitão Anthony Moraes Costa, em entrevista dada à reportagem da TV Gazeta.
“Isso faz com que aqueles profissionais não atendam todas as exigências que estão na norma, como por exemplo, dois anos de experiência na CNH na categoria A; bons antecedentes; curso específico; a utilização de corta pipa, de colete, de alça para o passageiro; então, todas essas exigências, elas muitas vezes são negligenciadas, e expõem ao risco não só quem está oferecendo o serviço, mas aquela pessoa que contrata a corrida”.
Isso sem contar o risco de contrair doenças, já que o mesmo capacete fica em contato direto com os olhos e narina, sendo utilizado por vários passageiros. Percebe como a segurança do passageiro fica comprometida com o mototáxi?
Aliás, essa mesma reportagem da TV Gazeta destaca: a moto é o meio de transporte mais perigoso. O ônibus, pelo contrário, é o mais seguro, segundo o Ministério da Saúde.
4. Impacto na mobilidade urbana
O uso crescente de transportes individuais, como motos e carros, é um dos principais fatores que contribuem para a falta de mobilidade nas cidades.
Assim, ao priorizar esses meios, estamos comprometendo a eficiência do transporte público e, consequentemente, a fluidez do tráfego urbano.
“Mototáxis podem ser úteis em contextos em que as vias são muito estreitas, como em algumas comunidades urbanas. Mas só fazem sentido se funcionarem como serviços complementares, integrados aos sistemas de transporte como alimentadores das linhas de ônibus, trens e metrôs. E desde que sejam conduzidos por motociclistas devidamente habilitados e treinados para prestar esse tipo de atendimento”, alerta texto sobre o assunto publicado na Revista n° 68 da NTU (Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos).
5. Um futuro melhor com o transporte coletivo
O transporte de passageiros por moto por aplicativos não só contribui para multiplicar o número de mortos e feridos nas vias, como também, prejudica ainda mais o trânsito nas cidades, diante da ausência de regulamentação desse serviço, que funciona de modo precário, sem fiscalização.
Com isso, capitais menores, como Recife, por exemplo, já enfrentam a concorrência nociva aos sistemas de transporte público.
O fato é que, se o transporte público coletivo recebesse mais prioridade nas vias urbanas, veríamos uma melhora significativa em sua velocidade operacional, além de uma redução nos congestionamentos.
Isso não só beneficiaria os usuários, mas também poderia resultar em tarifas mais acessíveis, aliviando a pressão sobre o bolso do cidadão. Tarifas essas que, em média, já são mais acessíveis do que o próprio mototáxi.
Na Grande Vitória, por exemplo, ida e volta somam R$ 9,40 no total. Enquanto um trecho da viagem de moto custa essa faixa de preço em muitos lugares, a depender da distância e do horário.
Ao considerar a utilização de mototáxi, é essencial ter em mente todos esses aspectos citados. A escolha de um transporte seguro e eficiente é fundamental para o bem-estar da sociedade e a mobilidade nas cidades.
Pense duas vezes antes de optar por essa alternativa e considere apoiar soluções que promovam um trânsito mais seguro e sustentável para todos. #VáDeTranscol