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O vírus que atropelou o ônibus urbano

Vírus causador da Covid-19 se alastra pelo Brasil causando impacto devastador no transporte público coletivo de passageiros

Quando 2020 começou, o setor de transporte público coletivo urbano não imaginava que a crise que já enfrenta há anos seria ainda mais agravada pelo surgimento da pandemia de coronavírus – que gera tantos prejuízos em todos os setores da economia e, pior, ceifa milhares de vidas no Brasil e no mundo. Desde que as medidas restritivas começaram nas primeiras cidades brasileiras e, gradativamente, foram se ampliando, as empresas operadoras do transporte coletivo se depararam com um desafio monumental: como seguir operando esse serviço essencial, de extrema importância para a mobilidade das pessoas – incluindo profissionais de outros serviços essenciais como saúde e segurança -, diante da abrupta queda da demanda, se é a tarifa paga pelo passageiro que basicamente financia o transporte coletivo?

Levantamento realizado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) revelou a dimensão do impacto da pandemia para o setor: do início da Covid-19 até 30 de abril, 314 cidades tiveram redução de oferta (quantidade de ônibus em circulação) em percentuais variados, sendo que 181 delas tiveram paralisação total do serviço. Além disso, houve queda de 80% no número de passageiros transportados na média nacional, sendo que a redução da oferta dos serviços foi inferior à queda da demanda, da ordem de 25% na média em todo o país.

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Ou seja, o transporte continuou sendo ofertado em volume acima do número de passageiros transportados, o que causou grave desequilíbrio financeiro. Estima-se que os prejuízos gerados chegaram a R$2,5 bilhões mensais em março, caindo ao longo de abril para R$ 1,2 bilhão/mês, segundo cálculos da Associação. Isso porque grande maioria das empresas conseguiu reduzir despesas de pessoal adotando as medidas estabelecidas pela Medida Provisória no 936/2020, aprovada no início de abril. Houve também a adequação parcial da oferta, realizada por poderes concedentes municipais e estaduais, e a volta gradativa das atividades econômicas, que gerou um tímido aumento da demanda. Apesar da redução das perdas, é ainda um prejuízo bilionário.

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Para o presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, a redução de passageiros gera impacto devastador nas finanças do segmento. “O levantamento traz um recorte da pior crise econômica já enfrentada pelo setor e antecipa o cenário de colapso que se aproxima, conforme a situação das empresas agrava-se em cada município”, afirma. Diferentemente de outros países, onde o transporte público é amplamente subsidiado, no Brasil apenas 11 sistemas de transporte coletivo possuem algum tipo de subsídio público, em sua maioria para custear gratuidades de estudantes, idosos e pessoas com necessidades especiais.

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Os dados levantados pela NTU foram reunidos no relatório “Covid-19 e o Transporte Público por Ônibus: Impactos no Setor e Ações Realizadas”, disponível no site da Associação, que incluiu todas as 26 capitais, o Distrito Federal e 14 regiões metropolitanas, além de várias cidades de grande, médio e pequeno porte. Os municípios da amostra reúnem 148,3 milhões de habitantes, respondendo por 70% da população brasileira, e representam 9,6% dos 2.901 municípios que são atendidos por serviço organizado de transporte público por ônibus urbano. Em todo o país são 1.800 empresas que operam uma frota total de 107.000 veículos e geram cerca de 1,8 milhão de empregos diretos e indiretos.

Matéria originalmente publicada na Revista NTUrbano n° 44 – página 13. Clique no link para ler na íntegra.
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