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Sem a modernização, o serviço de transporte coletivo por ônibus tende a caminhar para a inviabilidade

*MURILO SOARES DE ANDRADE LARA

Analisando dados recentes e a situação econômica das empresas que operam o transporte coletivo por ônibus no Brasil, a sensação é de que, aos poucos, estamos caminhando para um grande colapso do sistema ou para o triste fim de um dos setores essenciais para a economia e para a mobilidade urbana do país.

Explico. Dados da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) mostram que os ônibus urbanos perderam 25% dos usuários entre 2013 e 2017. Em 2017, pesquisa da entidade revelou que 67% das operadoras estão endividadas. Reflexos da ausência de políticas públicas e da falta de investimentos em infraestrutura urbana, por exemplo. Mas a perda de competitividade do setor, a queda de demanda e a consequente perda de mercado não estão relacionadas apenas a isso. Há também a forma de pensar e agir dos players do setor.

Estamos há décadas fazendo a mesma coisa, com base no passageiro do passado. Preocupamo-nos com questões técnicas, que são essenciais, mas nosso foco está no ônibus, não no cliente. Precisamos acompanhar as novas tendências e criar soluções capazes de mudar a experiência do consumidor do nosso serviço.

É o que fizeram os aplicativos de transporte, que ganharam uma boa parcela do nosso público, entregando algo novo e diferente, com um produto que já existia há séculos. Temos conhecimento e bagagem suficientes para fazer muito mais pelo transporte urbano.

O que falta é pensar de outra forma e gerar novos valores para o coletivo. Só assim poderemos alcançar resultados diferentes. É preciso entender as demandas e necessidades dos nossos clientes para conseguir resolver suas dores. Colocá-los no centro das decisões.

Hoje as pessoas possuem outras opções: aplicativos, bicicletas, patinetes. E novas alternativas surgirão. A tendência é que elas saiam do transporte coletivo. Nossa prioridade é procurar maneiras de fazer o inverso: trazê-las de volta! Afinal, os primeiros modais são complementares, mas o transporte público coletivo é estruturante e o único capaz de promover cidades viáveis e sustentáveis.

Um dos grandes desafios do setor — se não o maior — é como inovar em um ambiente altamente regulado. Os pré-requisitos impostos pelas concessões são limitantes. Por isso, temos que sensibilizar o poder concedente para que ele contribua com as ações inovadoras, possibilitando sua implementação. Mas não é só isso.

Se não inovarmos, vamos continuar perdendo mercado e ainda mais competitividade. E o modelo de serviço de transporte coletivo por ônibus como conhecemos hoje pode se tornar obsoleto. Nesse contexto, cito o Programa COLETIVO, lançado pela NTU este ano: uma iniciativa importantíssima e estratégica, com o objetivo de engajar os empresários na mudança de mindset, com foco no cliente.

Diante disso, fica claro que não há outra escolha: ou o setor acompanha as novas tendências, ou o transporte coletivo está fadado à inviabilidade. A modernização do setor não tem volta!

Texto publicado na Revista NTUrbano ed. 40 – Julho/Agosto 2019, página 7.

*MURILO SOARES DE ANDRADE LARA é Conselheiro da NTU e membro do Comitê Executivo do Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GVBus)

Comunicação GVBus

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