Devido ao alto número de acidentes envolvendo motos, especialistas alertam quanto aos perigos de se fazer uso do mototáxi em campanha que busca conscientizar os cidadãos
Os acidentes com moto representam 51% das mortes no trânsito no ES, e 35% no País; 55% dos acidentes de trânsito envolvem motos; Uma em cada três vítimas de batidas em vias de trafego estava em motos. Esses dados são da pesquisa Cenário da Mortalidade de Motociclistas no Brasil, realizada em 2019, pelo Observatório Nacional de Segurança Viária, e acendem um sinal de alerta à sociedade para os perigos da utilização dos transportes alternativos, em especial aqueles operados em motos.
Recentemente, em várias cidades, incluindo Vitória, a permissão da oferta de mototáxi via aplicativo já foi autorizada, mas não regulamentada. Ou seja, fazer esse tipo de transporte foi permitido, mas não há ainda o estabelecimento de regras de oferta e fiscalização desse tipo de serviço, ao contrário do que ocorre com o transporte coletivo por ônibus, por exemplo.
Para se ter uma ideia, no Espírito Santo, a motocicleta continua sendo o meio de transporte que mais mata. O número de mortes envolvendo motociclistas nos primeiros sete meses desse ano é exatamente igual ao período do ano passado. De janeiro a julho de 2022, foram registradas 241 mortes envolvendo motociclistas. Isso representa 51% dos 468 óbitos computados em vias capixabas esse ano. Se não houve um aumento, tão pouco é possível comemorar, já que o número de vidas perdidas para esse tipo de locomoção ainda é muito alto, conforme informado pelo observatório de segurança pública, da SESP-ES.
Só no mês de maio de 2022, dos 319 acidentes fatais, ocorridos no Estado, 164 vítimas estavam em motos, dados também da SESP-ES. Em São Paulo, dados do DETRAN-SP indicam que 60% dos profissionais que usam motos como veículo de trabalho já sofreram acidentes durante o serviço.
De acordo com o presidente da Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de São Paulo (FETPESP), Mauro Artur Herszkowicz, quando uma atividade não é regulamentada ela pode ser considerada clandestina. Logo, há uma brecha para que pessoas sem o treinamento adequado e sem responsabilidade possam atuar na área, colocando os passageiros em risco. “Não há regras para disciplinar essa atividade. Ainda temos o problema da manutenção, das condições do equipamento que pode apresentar defeito ou quebras que ampliam esse risco”, diz.
Para ele, a imprudência dos condutores, a falta de fiscalização dessa atividade pelos municípios e, também, a questão sanitária, que envolve o uso do mesmo capacete por vários “passageiros” sem uma higienização, são os fatores que representam os maiores perigos para usuários desse veículo.
No intuito de demonstrar à população os riscos existentes no mototáxi como forma de deslocamento, FETPESP, em conjunto com a Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), com o apoio da Confederação Nacional do Transporte (CNT), lançaram a campanha nacional “Sua segurança não pode ser passageira. Vá de ônibus”.
“É uma campanha de conscientização, motivada pela preocupação das empresas operadoras de todo o Brasil e, principalmente, daquelas que fazem parte dos sindicatos associados ao FETPESP, que começaram a perceber o crescimento indiscriminado e não regular dessa concorrência em suas cidades, frente a inércia dos órgãos gestores e fiscalizadores nos municípios. Temos alertado aos prefeitos e gestores municipais sobre o risco dessa modalidade e os prejuízos que esse serviço desregulamentado pode trazer para os municípios a médio e longo prazos”, afirma.
De acordo com o presidente da NTU, Francisco Christovam, “essa é uma campanha de conscientização de âmbito nacional. E nós não estamos discriminando o uso da moto, nós estamos mostrando as consequências da utilização do mototáxi como um serviço de transporte público, o que ele não é de fato. Ele é um transporte individual que pode ser usado com várias finalidades, mas não para transportar passageiro, porque ele é inseguro e é insalubre, uma vez que envolve questões sanitárias, inclusive”, afirma.
Herszkowicz destaca ainda o papel do setor de transporte de passageiros, que tem a necessidade de se comunicar com a população e orientá-la sobre os riscos dessa modalidade. “Esperamos com esta campanha sensibilizar o maior número de pessoas, em todo o território nacional”, expressa.
A campanha
O consultor de comunicação e marketing da FETPESP, Anderson Oliveira, conta sobre o desafio de desenvolver uma campanha com um conteúdo que se conectasse com o dia a dia do passageiro. Criar um roteiro que fosse capaz de chamar a atenção e demonstrar o perigo que está envolvido na escolha pelo mototáxi.
Oliveira explica que a elaboração da campanha passou por uma fase de pesquisa nacional do que é o mototáxi, onde ele existia e qual a sua interação com o público local. Na sequência, a compreensão do target, perfil dos passageiros deste modelo de transporte e os dados que envolviam o transporte com motocicletas.
“Nós já sabíamos que os dados sobre acidentes com motos seriam preocupantes. Contudo, não tínhamos a noção da grandeza. Estes acidentes, além de causar muitas mortes, têm impacto na vida das famílias e, também, econômicos, pois consomem muitos recursos da saúde e do DPVAT com assistências e indenizações”, ressalta.
Ao fazer uma comparação entre moto e ônibus, o consultor pontua que, em relação ao ônibus, de acordo com o RENAEST, as mortes que ocorreram em acidentes envolvendo esse meio de transporte representam menos de 2% de todas as mortes no trânsito. Quando comparado a motos, esse percentual é superior a 33%.
GVBus declara apoio à campanha
No início de agosto, o Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GVBUS) assinou uma carta de apoio à campanha “A Sua Segurança Não Pode Ser Passageira”. O documento foi encabeçado pela Fetransportes, e conta ainda com a assinatura do Sindicato das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado do Espírito Santo (Setpes).
Na carta, as entidades signatárias destacam quando se usa a motocicleta, não se leva em conta os aspectos relacionados com a segurança e o alto risco do transporte, mas apenas no facilitador da locomoção e no preço.
Além disso, chamam a atenção para os recentes eventos que têm causado fortes impactos no transporte coletivo por ônibus, como a queda de demanda de passageiros, o aumento dos insumos que compõem a sua planilha de custos, principalmente do diesel, o atendimento às exigências públicas postas pela segurança sanitária contra a Covid-19, e também a concorrência predatória dos transportes clandestinos e dos chamados alternativos, entre outros.