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Muito mais que proporcionar a locomoção das pessoas, as redes de transporte servem para deixar os centros urbanos mais amigáveis. Investimentos no coletivo podem transformar as cidades

*ADAMO BAZANI

Uma rede de transporte vai muito além da mobilidade de pessoas. Seu papel é, na verdade, ser transformadora de espaços urbanos e relações, de acordo com as necessidades de cada época ou região. Por isso, as cidades cujos administradores realmente pensam na população como um todo, e não em interesses de pequenos grupos, inserem as redes de transportes nos planejamentos para a modernização urbana.

A consequência dessa visão, que tem aos poucos ganhado espaço nas administrações brasileiras, mas de forma ainda insuficiente, é a melhoria objetiva nas condições de vida da população e na sensação de bem-estar.

O transporte

Os modelos de cidades, que se intensificaram no Brasil entre os anos 1950 e 1960, voltados para a circulação de carros e não de pessoas, já se esgotaram faz tempo. Linhas comuns de ônibus, corredores e sistemas de trilhos não devem somente “correr” atrás das demandas e suprir carências de atendimento em determinadas regiões. Enquanto o “aqui e agora” tem de ser executado, os planejamentos de transportes devem focar na introdução de novos perfis de vida e investimentos regionais.

Neste sentido, os planos diretores das cidades colocam os transportes não mais na concepção pendular, pelo qual se leva pessoas do ponto A para o ponto B para trabalharem e, no final da tarde, do ponto B para o ponto A para retornarem às suas casas. Todos ao mesmo tempo e nos mesmos espaços.

E esse “miolo” entre os dois pontos?

As concepções mais modernas de cidades pensam as moradias e oportunidades de renda e trabalho não em pontos opostos, mas distribuídas ao longo dos eixos de transportes. Casas mais próximas do trabalho, menos congestionamentos e diminuição do tempo de deslocamento diário são os objetivos de uma cidade planejada por eixos integradores de mobilidade urbana.

O prefeito de Curitiba, Jaime Lerner, ao inaugurar o primeiro sistema de corredor BRT – Bus Rapid Transit em 1974 pensou muito mais que numa rede de transporte, mas numa organização urbana. O modelo foi exitoso, mas em determinados momentos sofreu com a falta de continuidade administrativa por questões partidárias.

A reestruturação da dinâmica urbana serve tanto para grandes capitais como para pequenas e médias cidades e, também, para conglomerados de cidades em regiões metropolitanas. O passo inicial para planos transformadores de cidades é priorizar os transportes coletivos no espaço urbano e nos investimentos.

Por exemplo, muitos dos problemas atribuídos hoje aos ônibus não são, na verdade, “culpa dos ônibus”.

Viagens longas e desgastantes, grandes intervalos e lotação ocorrem porque na maior parte das vezes o transporte coletivo recebe muito pouca ou nenhuma prioridade no espaço urbano. Corredores mais estruturados, ou soluções bem mais simples, como faixas preferenciais ou proibição de estacionamento pelo menos em um dos lados da via por onde passam os ônibus nos horários de pico, já resultariam em viagens mais rápidas e menos cansativas, menores intervalos e melhor frequência.

Um plano de cidade e região metropolitana que prioriza o transporte coletivo e o coloca como um dos agentes de transformação urbana interfere até mesmo nas tarifas. Grande parte dos custos dos transportes hoje é decorrente do fato de que os ônibus ficam presos em congestionamentos gastando combustível, peças e horas trabalhadas.

Com mais prioridade ao transporte público, um ônibus consegue fazer mais viagens, aumentando sua produtividade, eficiência e reduzindo os custos de operação. É hora de transformar as cidades.

Texto publicado na Revista NTUrbano ed. 38 – Março/Abril 2019, página 30.

*ADAMO BAZANI, é jornalista especializado em transportes
Comunicação GVBus

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