Estudo feito pela NTU mostra queda de 3,6 milhões de usuários de ônibus por dia e revela aumento das gratuidades nos coletivos
Dados do Anuário 2017–2018 da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) revelam que o serviço de transporte público coletivo urbano por ônibus continua em declínio no País. No ano passado, a redução média de demanda foi de 9,5% (a terceira maior desde o início da série histórica), equivalente à perda diária de 3,6 milhões de passageiros em todo o País, em comparação a 2016.
O estudo é feito com base em nove capitais analisadas na série histórica — Belo Horizonte, Curitiba, Fortaleza, Goiânia, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Salvador e São Paulo — e compara o desempenho do setor levando em consideração os meses de abril e outubro de cada ano.
Ônibus e demanda
A diminuição da demanda foi agravada especialmente nos últimos cinco anos (a partir de 2014), culminando em uma perda média acumulada de 25,9% dos usuários pagantes. Isso ajuda a explicar, por exemplo, o aumento das tarifas, já que agora há menos usuários rateando os custos da operação e a oferta do serviço não é reduzida na mesma proporção da queda do número de usuários.
“Infelizmente, a demanda vai continuar caindo enquanto não houver políticas públicas de prioridade ao ônibus nas vias e enquanto o passageiro for o único a arcar com os custos da tarifa”, afirma Otávio Cunha, presidente executivo da NTU. Ele também atribui o agravamento da situação ao impacto negativo do cenário econômico do país, que favorece o aumento do desemprego e restringe até os deslocamentos para quem busca trabalho.
Tarifas e gratuidades
Outro agravante da situação é a sobrecarga das gratuidades concedidas a estudantes, idosos e outros passageiros definidos em leis, que passou de 17% para 20,9% no último ano. Isso significa que um em cada cinco passageiros viaja de graça atualmente; como esse custo também é rateado entre os usuários pagantes, o peso das gratuidades contribui igualmente para encarecer o valor das tarifas.
Segundo a NTU, o modelo tarifário brasileiro, centrado unicamente em quem paga a passagem, limita o crescimento do setor e contribui diretamente para afastar o usuário do ônibus. “O financiamento das gratuidades por fontes externas de custeio, além de reduzir imediatamente o valor das tarifas, garantiria justiça social aos usuários do transporte público”, observa Cunha.
Óleo diesel
De acordo com o levantamento, indicadores como passageiros equivalentes e pagantes, quilometragem produzida, mão de obra, índice de frota e outros têm reflexo direto no desempenho do setor. O preço do óleo diesel chama a atenção porque dados do monitoramento realizado pela NTU (2018), com base em informações publicadas pelo IBGE, apontam que a variação acumulada do combustível foi 11,2% superior ao Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo – IPCA em 2017. Ainda de acordo com o levantamento da Associação, nos últimos 19 anos o aumento do óleo diesel foi 254,1% superior ao IPCA e 171,5% superior ao valor da gasolina no mesmo período.
O impacto do combustível está entre os principais itens de custo do sistema, menor apenas que o custo da mão de obra. Segundo simulação realizada pela NTU (2017), somente o óleo diesel representa 22% do custo total do sistema, em média. Considerando a variação acumulada do óleo diesel ao longo do ano de 2017, que foi de 8,4%, isso representa um impacto direto de 1,9% nos custos e, consequentemente, nas tarifas.
Outros dados
O Anuário NTU 2017–2018 ainda traz informações sobre a idade média da frota de ônibus, média de salários dos motoristas, tarifa média ponderada, custo por quilômetro e outros dados sobre o setor. A publicação está disponível na biblioteca on-line da NTU, na página www.ntu.org.br.