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“Para continuar atrativo e desempenhar seu papel de estruturador da mobilidade de cidades mais vivas, sustentáveis e dinâmicas, é necessário que o transporte público coletivo entre em uma nova era, pautada nas reais demandas de seus usuários e suportada por uma forte e perene visão governamental”, diz especialista

*Por Gabriel Oliveira

Precisamos repensar o modelo de desenvolvimento urbano vigente em nossas cidades nas últimas décadas. Cidades mais compactas, densas, com maior mistura social e de uso do solo permitiriam a seus cidadãos ter grande parte dos seus desejos ao alcance de algumas quadras.

Porém, inevitavelmente, viagens de média e longa distância serão sempre necessárias para acesso total às nossas amplas cidades brasileiras. Seja para resolver pendências pessoais, acessar serviços públicos, aproveitar o fim de semana, visitar parentes, o cidadão precisa ter assegurado o seu direito social ao transporte e de se locomover com dignidade no território.

No contexto de aumento exponencial de carros e motos particulares e de surgimento de novas soluções de transporte sob demanda, haveria um novo papel para o transporte público coletivo em nossas cidades? Não – o transporte público coletivo continua sendo mais democrático, eficiente e sustentável do que soluções de transporte individual. Ainda assim, se o papel é o mesmo, a sua forma de atuação precisa fazer frente a esse novo contexto.

Demandas diretas e concretas da sociedade, como frequência, confiabilidade, rapidez, tarifa acessível, segurança viária, limpeza e conforto, infraestrutura adequada, integração facilitada e qualificação de motoristas, faltam constantemente nos serviços. Com novas tecnologias disponíveis, ficou mais fácil entender o que agrada e move o comportamento das pessoas, permitindo a gestores públicos e operadoras tomar decisões técnicas mais embasadas.

Por outro lado, a visão política sobre mobilidade sustentável ainda é incoerente e inconstante. Enquanto a expansão da prioridade viária para o transporte público e novas formas de financiá-lo engatinham, vez ou outra nos deparamos com projetos injustificáveis de novas vias expressas como solução para avenidas congestionadas. Em BH, RJ e SP, por exemplo, apenas 1%, 2% e 3%, respectivamente, das vias da cidade têm algum tipo de prioridade para o transporte público. O que fariam se soubessem que um corredor de BRT com uma faixa no nível da rua pode oferecer o quádruplo de capacidade de uma via elevada com duas faixas? Indo na contramão, é cada vez maior as cidades que liberam a circulação de táxis e veículos particulares nessas escassas vias.

Para continuar atrativo e desempenhar seu papel de estruturador da mobilidade de cidades mais vivas, sustentáveis e dinâmicas, é necessário que o transporte público coletivo entre em uma nova era, pautada nas reais demandas de seus usuários e suportada por uma forte e perene visão governamental.

*Gabriel Oliveira ingressou no ITDP Brasil em novembro de 2013. Atua como coordenador no programa de Transporte Público e Desenvolvimento Urbano e liderou atividades de avaliação e apoio a corredores de BRT em oito cidades e regiões metropolitanas brasileiras. É mestre em Engenharia de Transportes com ênfase em Transporte Público pela COPPE/UFRJ (2016) e possui duplo diploma em Engenharia pela École Centrale de Lyon (França) e pela UFRJ (2013).

Artigo publicado na revista NTUrbano Março/Abril 2018, página 25

Comunicação GVBus

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