Medidas de gestão de mobilidades inclusivas buscam incentivar os cidadãos a optarem por meios sustentáveis de deslocamento nas cidades. Estas estratégias passam pela priorização do transporte público coletivo, menos prejudicial ao meio ambiente e à saúde do que os automóveis
Com o crescimento populacional nas cidades, torna-se cada vez mais necessário a adoção de políticas de mobilidade urbana, a fim de melhorar a qualidade de vida dos cidadãos. Afinal, uma região bem planejada, com uma infraestrutura que priorize o transporte público coletivo, os ciclistas e pedestres, significa menos congestionamentos nas vias, redução nas emissões de gases prejudiciais ao meio ambiente e a saúde, e menos tempo perdido no trânsito.
Mas para que essas políticas de mobilidade tenham eficácia, é fundamental que elas sejam incorporadas pela população.
Nesse sentido, você sabia que algumas normas podem ser adotadas para estimular o uso do transporte público coletivo e outros modais, como bicicletas? São as chamadas medidas de afastamento, estratégias que fazem parte da Gestão de Mobilidade (GdM) presente na série “Gestão de Mobilidades Inclusivas”, publicada pelo Instituto de Políticas de Transporte e Desenvolvimento (ITDP.) São ações que têm como objetivo atuar na escolha modal dos usuários, mudando seu comportamento na circulação.
Parte dessas ideias se embasa na restrição da circulação de veículos particulares ou na tarifação do acesso a determinadas áreas com: precificação de congestionamento; zonas de baixa emissão; precificação do estacionamento em via pública e fora dela; taxas/cotas de registro de veículos; e pedágios.
Assim, ao desestimular o uso do automóvel, os governos devem melhorar os serviços e a disponibilidade de transportes sustentáveis para atrair o motorista aos modais coletivos. Isso pode ser feito por meio de:
- Melhoria da frequência e confiabilidade do transporte público;
- Faixas exclusivas para transporte público;
- Benefícios para os usuários de transporte público, pedestres e ciclistas;
- Melhoria das estruturas para mobilidade a pé ou por bicicleta;
- Micromobilidade com veículos compartilhados;
- Integração multimodal.
É importante salientar também que essas medidas mais restritivas podem ser impopulares e ampliar a segregação, como aponta a coordenadora de gestão da mobilidade do ITDP, Lorena Freitas. “É interessante que essas políticas comecem a ser implantadas de forma gradual, partindo das menos polêmicas, como a gestão de vagas de estacionamento ou a pedestrianização de determinadas vias. Uma vez que os resultados positivos dessas ações comecem a ser vistos, se começa a gerar um espaço para inclusão de medidas de maior restrição”.
Os recursos vindos das políticas que cobram pelo uso dos veículos individuais devem ser direcionados para o desenvolvimento da mobilidade urbana, por meio de fundo municipal específico para essas receitas, o que ajuda a garantir uma melhoria nos modos sustentáveis e a viabilizar medidas de afastamento mais incisivas; uma vez que haja transporte público de qualidade e com custo acessível, tarifar os automóveis se torna menos problemático em termos socioterritoriais.
O especialista Mauro Zilbovicius aponta que o governo deve primeiro recuperar o setor de transporte público do país, com subsídios ao usuário e melhoria da mobilidade, para os ônibus e trens se tornarem opções para os proprietários de carros. “Se você melhora o serviço, pode viabilizar uma cobrança de pagamento do combustível queimado, por exemplo. Isso tem a ver com a poluição e problemas de saúde. Os escapamentos dos carros estão produzindo uma quantidade enorme de carbono na atmosfera e quem faz isso tem que pagar. E com esse recurso é possível melhorar a situação do ar e também financiar o transporte público coletivo, que se transforma em uma alternativa real para as pessoas que têm automóvel não pensarem duas vezes”, finalizou.
Com informações extraídas da Revista NTUrbano, n° 54, página 45