Uma nova era: empresas de ônibus e entidades do setor trabalham na realocação dos profissionais que atuam hoje no país
Criado basicamente para receber a tarifa em dinheiro e dar trocos, o posto de cobrador de ônibus vem perdendo a função à medida que o transporte coletivo se moderniza. Uma pesquisa realizada pela Universidade de Brasília (UnB), divulgada em fevereiro de 2019, colocou os cobradores como a terceira categoria com maior chance de ser extinta pela tecnologia, logo atrás das profissões de taquígrafo e torrador de café. Um número crescente de sistemas de ônibus tem adotado a bilhetagem eletrônica para o pagamento das passagens.
Diante disso, empresas e entidades do setor trabalham para realocar o maior número possível dos 108 mil cobradores de ônibus empregados hoje no país, tanto dentro das próprias empresas quanto em outras oportunidades disponíveis no mercado de trabalho. O presidente executivo da NTU, Otávio Cunha, aponta alguns caminhos que poderão ser adotados pelos operadores do transporte coletivo quando o momento chegar. “Os cobradores que quiserem continuar na empresa podem ser aproveitados em outras áreas e, até mesmo, como já acontece, virar motoristas de ônibus.
Outros poderão ser realocados nos postos de venda antecipada de bilhetes eletrônicos, além da área administrativa e de manutenção”, ressalta. De acordo com levantamento da Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o posto de cobrador já não existe em 32 cidades. E outros 31 municípios operam a função de forma parcial, ou seja, uma parte da frota atua com cobrador e a outra sem. No entanto, existem cidades brasileiras, como Boituva (SP), onde o posto de cobrador nunca existiu. Já em Sorocaba (SP), há 27 anos os ônibus municipais são operados somente com motorista. Goiânia (GO) não fica atrás; lá, as empresas locais atuam sem cobrador desde 1998.
Segundo Otávio Cunha, a mudança traz vantagens: com o pagamento por bilhetes eletrônicos, a tendência é que a viagem fique mais rápida, com embarque e desembarque mais ágeis; o custo do serviço pode cair em até 15% com a realocação de cobradores; e aumenta a segurança, já que nas cidades onde foi eliminado o dinheiro a bordo, com a implantação do sistema sem cobrador, caíram praticamente para zero os assaltos aos ônibus e seus passageiros. Ele avalia que essa mudança deve chegar a todas as cidades brasileiras, porém requer cuidados. “A retirada do cobrador não deve ser feita de uma forma abrupta, imediata. É preciso que se estabeleça um planejamento de médio prazo — eu diria de até dois anos — para a retirada gradual dessa função”, conta. Empresas de ônibus e entidades do setor trabalham na realocação dos profissionais que atuam hoje no país.
Novas oportunidades
Na Grande Vitória, o mercado de trabalho também está mudando. Com a implantação do Cartão GV, surgiu um novo cargo dentro do sistema, que é o de agente de vendas ou bilheteiro de transporte, no qual alguns cobradores foram recolocados. Além disso, as empresas do Sistema Transcol estão fazendo seleções internas em busca de novos talentos. Na empresa Santa Zita, cobradores receberam capacitação para assumir as funções de manobreiros, e manobreiros para atuarem como motoristas.
Outro exemplo é a Unimar, onde 15 cobradores foram promovidos este ano e 19 estão no processo de avaliação para virarem motoristas. Nos últimos dois anos, a Unimar promoveu 48 cobradores para as funções de motorista, controlador de manutenção, fiscal, lanterneiro e assistente de tráfego.
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De acordo com a coordenadora de RH da Unimar, Euziane Barbosa, todos os profissionais passam por etapas de seleção interna, quando são testadas as habilidades necessárias às novas funções. “Um dos pré- -requisitos estabelecidos para qualquer funcionário que deseja participar de processos de seleção interna é que ele tenha um bom histórico na empresa, avaliado através da ficha de conduta”, explica.
Texto publicado na Revista NTUrbano – ed. 40 – Julho/Agosto 2019, páginas 38 e 39.