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Quando se fala em futuro, os novos conceitos de Mobilidade Integrada e Mobilidade como Serviço colocam as pessoas no centro do transporte urbano

*Por Roberto Sganzerla

Mobilidade humana é mais que mobilidade urbana. Mobilidade urbana é fazer uma boa gestão da operação, das linhas, horários, frota, bilhetagem eletrônica etc. Mobilidade humana é “andar a segunda milha” e colocar os clientes e usuários no centro dos serviços de transportes. Mercadologicamente falando, clientes são aqueles que usam e pagam e usuários são aqueles que usam e não pagam. No transporte coletivo temos os dois, clientes e usuários.

É importante termos isso em conta, pois todos são seres humanos e, como tal, têm sonhos e anseios diferentes. Mobilidade humana é colocar os clientes e usuários no centro dos serviços de transportes. Philip Kotler, no livro Marketing 4.0 – Mudança do Tradicional para o Digital, diz que a transformação digital transferiu poder para os consumidores conectados.

Lembro-me da época em que, para assistir a um filme, tínhamos que ir até à locadora, alugar o filme, voltar para assistir e depois correr para devolver o DVD para não pagar mais de uma diária. Com a transformação digital, a proliferação dos computadores pessoais e tecnologias disruptivas, a Netflix, por exemplo, deixou as lojas tradicionais de aluguel de vídeos praticamente no passado.

Alguns acham que isso também poderia acontecer com o transporte coletivo, com o surgimento dos chamados “aplicativos”, como o UBER, 99, Cabify etc. Mas vamos analisar um setor estruturante, como o de meios de pagamentos, para ver se podemos aprender algumas lições e aplicá-las na mobilidade urbana.

No dia 8 de fevereiro de 1949, Frank McNamara fez um jantar de negócios no restaurante nova-iorquino Major´s Cabin Grill. Quando a conta chegou, ele percebeu que havia esquecido a carteira e, então, resolveu que deveria ser criada uma alternativa ao dinheiro vivo. Com seu advogado Ralph Schneider e o amigo Alfred Bloomingdale, MacNamara, posteriormente, desenvolveu o Diners Club Card.

O Diners foi o primeiro cartão de crédito usado em larga escala. No ano 2000 já havia 1,43 bilhão de cartões de crédito somente nos USA, e muitos diziam que em pouco tempo não haveria mais dinheiro vivo circulante. Mas o dinheiro continua! Pode ser que muitos deixaram de usar o “dinheiro vivo” e passaram a usar o “cartão”, mas o fato é que com as inovações e as novas tecnologias ficou muito mais fácil tanto “pagar” quanto “receber”.

Leia também: A velha mobilidade é posse, a nova é serviço

É inevitável que a inovação e as novas tecnologias cheguem ao transporte e à mobilidade urbana, assim como foi para os outros setores. Mas assim como as publicações impressas continuam sendo muito importantes para o setor editorial, bem como o dinheiro e a moeda corrente para o setor bancário, a mobilidade por ônibus e por trilhos continuará sendo a forma estruturante dos transportes das cidades.

A grande mudança que está ocorrendo na mobilidade urbana é que, agora, o centro dos serviços de transportes está nas pessoas. Hoje, o transporte coletivo não conecta apenas lugares, mas se conecta diretamente com os seus clientes por meio de dispositivos móveis e em tempo real.

Em um mundo cada vez mais digital, que empodera os consumidores conectados, determinar onde, quando e como as pessoas devem agir, é algo que precisa ser repensado. A solução que cidades como Helsinque (Finlândia) e Estocolmo (Suécia) encontraram foi a construção de plataformas de mobilidade integradas, baseadas no conceito de Mobility as a Service – MaaS.

Pensar na Mobilidade como Serviço (MaaS) é, em sua essência, o conceito de “plataforma de mobilidade da cidade”, na qual o passageiro encontra a opção de mobilidade mais adequada, com um planejador de viagem multimodal integrado que fornece informações em tempo real, faz reserva, pagamento, emissão dos bilhetes e serviços personalizados, dando assim ao passageiro a possibilidade de comparar opções multi-intermodais e escolher o que lhe for mais adequado.

Pensar na “jornada” é pensar nas pessoas bem antes de elas começarem a “viagem”, quando elas ainda estão em casa ou no trabalho, antes mesmo de elas abrirem o app ou a plataforma de mobilidade. A viagem está para a mobilidade urbana assim como a jornada está para a mobilidade humana. Só assim, colocando as pessoas no centro dos serviços de transportes, a mobilidade urbana será cada vez mais humana.

*Roberto Sganzerla é especialista em Marketing de Transportes e Mobilidade Urbana
Comunicação GVBus

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