Suspensão do Transcol durante a quarentena reforça a importância do transporte coletivo para o desenvolvimento das cidades. Mais de 1,8 milhão de pessoas seriam afetadas caso o transporte coletivo fosse extinto
Sem transporte coletivo por duas semanas, com exceção da frota destinada aos profissionais de saúde, um novo cenário se desenhou nas cidades atingidas pela suspensão dos ônibus durante a quarentena no Espírito Santo. Aumento no número de carros em circulação, empresas e condomínios recorrendo a meios alternativos para o transporte de funcionários e elevação de preços do transporte via aplicativo são alguns dos aspectos que passaram a fazer parte da rotina da população. Mas, afinal, o que aconteceria se o transporte coletivo acabasse de forma definitiva?
Segundo o Sindicato das Empresas de Transporte Metropolitano da Grande Vitória (GVBus), mais de 1,8 milhão de pessoas seriam diretamente afetadas, somente na Grande Vitória. São cidadãos que utilizam o Sistema Transcol, seja para estudar, trabalhar, ou de maneira esporádica. Destes, 928,2 mil passageiros, o equivalente a 49,3% do total, são de usuários do CartãoGV Cidadão (Passe Fácil). Isto é, qualquer passageiro que não seja beneficiário dos outros tipos de cartões, como Escolar, Idoso ou Vale-transporte, por exemplo, seria o mais prejudicado.
Em seguida, os mais impactados seriam os trabalhadores que utilizam o vale transporte – 828,3 mil (44%) -, idosos – 59,5 mil (3,2%) -, estudantes – 56,6 mil (3%) -, e usuários beneficiários da gratuidade da tarifa, que possuem alguma deficiência – 11,1 mil (0,6%). Mas os prejuízos se estendem a vários aspectos da sociedade.
Importância Social e econômica
A partir dos intensos fluxos migratórios e o avanço do processo de urbanização das cidades brasileiras, aumentam também as necessidades da população, que só serão supridas com a oferta de serviços compatíveis com os atuais números de habitantes. É nesse sentido que a mobilidade urbana é um direito fundamental garantido na Constituição Federal e o transporte coletivo por ônibus indispensável para o desenvolvimento das cidades.
“O Sistema Transcol parou por duas semanas por determinação do governo porque este entendeu que era necessário, devido à crise sanitária que estamos vivendo, e devido à necessidade de que a maioria das pessoas ficasse em casa. Ainda não se sabe qual o real impacto econômico nas empresas que não puderam parar e que precisaram recorrer a outras formas de garantir que seus funcionários chegassem ao local de trabalho, já que serviços particulares são mais caros do que o transporte público”, pondera o diretor executivo do GVBus, Elias Baltazar.
O ponto aqui é saber se todas as empresas e prestadores de serviços, em especial informais, de pequeno e médio porte, conseguiriam sustentar essa situação por muito tempo.
Meio ambiente e mobilidade
Na área ambiental, por exemplo, a opção pelo transporte individual em detrimento do coletivo afeta a qualidade do ar, o que também influencia na saúde da população. Além disso, quanto maior o número de automóveis em circulação, maiores serão os congestionamentos e, por consequência, o tempo perdido no trânsito. Isso contribui para a piora da qualidade de vida da população, o que reflete, inclusive, na redução de mão de obra disponível, com prejuízos à economia.
Para ter uma noção dos impactos, um estudo realizado pela Associação Nacional das Empresas de Transporte Urbano (NTU) aponta que um ônibus conduz a quantidade de pessoas equivalente a 40 carros.
A pesquisa também destaca que o setor de transporte coletivo urbano é responsável por promover mais de 405,7 mil empregos diretos no país. Somente na região metropolitana do Espírito Santo, cerca de 8 mil postos de trabalho estão ocupados para garantir o funcionamento do sistema. Tais fatores contribuem para a geração de renda nos Estados e, consequentemente, levam ao avanço econômico e social.
Diante disso, o que aconteceria se o transporte coletivo acabasse?
Em um possível cenário de suspensão das atividades do transporte coletivo, fica a reflexão quanto à essencialidade do sistema. É o que afirma o consultor internacional de transportes Cláudio Senna Frederico à Federação das Empresas de Transporte de Passageiros do Estado de São Paulo – Fetpesp, em entrevista que aborda a essencialidade desse serviço.
“O transporte público é essencial, pois a população encarregou o governo da sua essencialidade. É um sistema gerido por regras determinadas pelo Estado, porque precisa ser assim, a fim de que seja universal”, destaca.