Por que queimam ônibus no Brasil? Essa é uma pergunta que intriga especialistas e que está em estudo pela NTU desde 1987, que desde então, faz o registro dos coletivos queimados em todo o país
Lançado no final do ano passado pela Confederação Nacional do Transporte (CNT) e pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), o estudo “Fogueiras da insensatez: Por que queimam os ônibus no Brasil” analisa o tema a partir da compilação de registros históricos, opiniões de especialistas e narrativas de empresários, gestores públicos e testemunhas que vivenciaram episódios de incêndios a ônibus.
No prefácio da publicação, o presidente da CNT, Clésio Andrade, organizador do estudo, chama a atenção para os desafios da vida em sociedade, que são muitos e cada vez mais complexos e instigantes. Segundo ele, equacionar a questão da logística e da mobilidade, nesse contexto, requer pensar em inúmeras frentes de intervenção, sendo que uma das mais problemáticas é a violência.
“O transporte de passageiros e cargas no Brasil – seja por via rodoviária, ferroviária, hidroviária ou aeroviária – está exposto à mesma violência que afeta todos os setores da sociedade, seja decorrente de ações isoladas, seja pela atuação do crime organizado. Uma violência que causa ferimentos, incapacidades temporárias ou permanentes e perda de vidas humanas, além de prejuízos significativos para operadores e usuários do sistema, e para a economia como um todo”, alerta o presidente.
De acordo com o estudo, a violência no transporte se materializa de várias formas: roubo de cargas, depredações de veículos e terminais de embarque e desembarque, roubos a passageiros, entre outros. Cada situação tem sua dinâmica própria e exige ações específicas do poder público, usuários e operadores para ser minimizada ou coibida.
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Porém, o que chama a atenção dos especialistas e empresários do setor, é que o Brasil enfrenta ainda um tipo de violência muito peculiar, que não faz parte da realidade de outros lugares do mundo: os incêndios intencionais em ônibus urbanos.
No Espírito Santo, entre 2017 e 2018, foram queimados 18 ônibus do Sistema Transcol. Em 2019, um coletivo já foi incendiado antes do final de fevereiro. Dados que preocupam os empresários locais e toda a população.
“Trata-se de um fenômeno tipicamente brasileiro, que assola as maiores cidades do país há décadas e que começou como forma de chamar a atenção da opinião pública e de autoridades para problemas específicos, mas que, nos últimos anos, ultrapassou todas as fronteiras do bom senso, sendo responsável por mortes, pessoas feridas e destruição. Por trás de ocorrências assim, há criminosos de todos os tipos, que agem principalmente em represália a medidas de combate ao crime organizado dentro e fora das prisões”, explica Clésio Andrade.
E ele se baseia em dados. Embora seja massivo – entre 1987 e meados de 2018 foram queimados 4.330 ônibus urbanos no Brasil– esse fenômeno é muito pouco conhecido e estudado. A Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU) se debruça sobre o tema há anos e realiza um levantamento detalhado sobre as ocorrências registradas desde 1987. Esse trabalho permite conhecer onde e quando ocorreram os incidentes, além de avaliar os prejuízos materiais e humanos causados.
Ainda no prefácio, Clésio destaca que o objetivo da publicação é identificar as possíveis causas do problema, suas principais implicações e consequências, bem como potenciais soluções ou formas de mitigação.
Dessa forma, a intenção é que a publicação sirva para analisar, compreender e dar visibilidade à questão dos incêndios criminosos de ônibus no Brasil e, dessa forma, facilitar a adoção de políticas públicas eficientes e eficazes, capazes de dar uma resposta social efetiva a tal desafio.
“A dimensão dos afetados pelos crimes praticados é expressiva e esse grupo merece respostas, até o momento, inexistentes. Com mais e melhores informações a respeito, é possível buscar soluções plausíveis e viáveis para tantos casos que passam impunes pela Justiça e que afrontam e prejudicam os operadores dos serviços e a sociedade que faz uso e depende do transporte público”, conclui Clésio Andrade.