A pesquisa, realizado pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU), mostrou que em algumas cidades brasileiras, como Vitória, a maior oferta da frota de veículos não acompanhou as taxas de transmissão da Covid-19 no Estado, que foram baixas nos últimos meses
O uso frequente de ônibus não está associado ao aumento do número de infectados pela Covid-19 no Brasil, é o que indica um estudo divulgado em setembro pela Associação Nacional das Empresas de Transportes Urbanos (NTU). Tal dado demonstra que, ao contrário do que pensa o senso comum, o risco de transmissão nos coletivos é o mesmo do que em outros locais de circulação pública.
A pesquisa teve como base a variação da demanda de viagens e passageiros, e informações fornecidas pelo Sistema Único de Saúde (SUS) sobre o índice de contágio pelo novo coronavírus do país. De março a julho (17 semanas epidemiológicas), 15 sistemas de transporte públicos por ônibus foram avaliados. Eles são responsáveis por atender 171 municípios brasileiros.
Dentre os Estados e cidades abrangidos pela análise, observando as incidências de casos e o uso do transporte público, estão: Belém, no Pará; Belo Horizonte, em Minas Gerais (municipal e intermunicipal metropolitano; Curitiba, no Paraná (municipal e intermunicipal metropolitano); Fortaleza, no Ceará; Goiânia, em Goiás; Macapá, no Amapá; Natal, em Rio Grande do Norte; Porto Alegre, no Rio Grande do Sul; Recife, em Pernambuco; Rio de Janeiro, no Rio de Janeiro (municipal e intermunicipal metropolitano); Vitória, no Espírito Santo e Teresina, no Piauí.
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A escolha desses locais se dá em razão do teor de representatividade no setor, sendo esses responsáveis pela realização de mais de 325 milhões de viagens por mês e 13 milhões de deslocamentos diários, o que corresponde a 32,5% do total de viagens de passageiros realizadas em todos os 2.901 municípios brasileiros atendidos por sistemas organizados de transporte público por ônibus. Os dados são do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), publicados em 2017.
Resultados
Como resultado do estudo, não foi encontrado evidências de que o aumento do número de passageiros transportados levou a maior incidência de casos confirmados do vírus.
A análise foi realizada comparando-se os casos confirmados sete dias após a demanda transportada, considerando que, se constatado a contaminação do passageiro durante a viagem, este seria o prazo médio entre a eventual infecção e a detecção do contágio por testes.
Em alguns municípios, por exemplo, o crescimento da demanda pelos ônibus coincidiu com a redução casos confirmados da doença enquanto em outros a redução do número de passageiros transportados aconteceu simultaneamente com a ampliação do contágio. Esse é o caso da Capital do Espírito Santo, onde foram verificadas as duas situações, conforme ilustra o gráfico abaixo:
No período de greve de motoristas e cobradores, o número de viagens foram reduzidas e os casos do novo coronavírus em Vitória aumentaram. Já em outro momento, a oferta de coletivos foi alta e as taxas de transmissão baixas.
Um outro levantamento, feito pelo GVBus com dados da operação e informações da Secretaria de Estado da Saúde (extraídas no dia 11 de agosto), aponta que, na semana de 24 a 30 de maio, o Transcol transportou 1,4 milhões de passageiros, enquanto a Grande Vitória registrou 4.117 novos casos. Já na semana de 26 de junho a 01 de agosto, a demanda transportada foi maior: 1,7 milhões de pessoas, a Grande Vitória confirmou somente 1.429 infectados.
O presidente-executivo da NTU, Otávio Cunha, esclarece que a instituição monitora os riscos de transmissão da doença no setor desde o início da pandemia. “O transporte público por ônibus urbano não pode ser apontado como responsável pelo aumento do número de casos, não há uma relação entre uma coisa e outra. Podemos dizer que o transporte público coletivo urbano é seguro se todos tomarem as devidas precauções”, afirma.
Cunha lamenta ainda que os coletivos foram os maiores culpados pelo aumento de casos confirmados da Covid-19, antes mesmo da possível averiguação do fato, que não foi comprovado. “Criou-se um senso comum de que o uso do transporte coletivo expõe ao maior risco de contágio e isso tem assustado as pessoas, influído no funcionamento do sistema de mobilidade urbana das cidades e prejudicado a realização de atividades essenciais. Hoje conhecemos melhor os fatores relacionados à disseminação e as medidas que devem ser tomadas para a minimização destes riscos à população”, declara.
Prevenção e medidas adotadas
Cabe ressaltar que o risco de contágio pode ser reduzido caso cuidados básicos de higiene sejam adotados. Tais como o uso frequente de máscaras e álcool em gel, evitar aglomeração em ambientes fechados e compartilhamento de objetos.
Para preservar a saúde de passageiros e colaboradores, os sistemas de transporte coletivo por ônibus também adotaram medidas de proteção. Dentre elas, destacam-se: instalação totens de álcool em gel nos terminais rodoviários, bem como sabonetes para a higienização das mãos; uso obrigatório de máscaras durante as viagens; suspensão da circulação de dinheiro dos coletivos; aumento dos níveis de ventilação; e limpeza intensificada dos veículos, garagens e terminais segundo protocolos sanitários do Ministério da Saúde.